Efeito Chicote e a Gestão de Estoques

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Uma forma de se agregar valor ao produto é manter a sua disponibilidade.

Por exemplo: manter produtos em estoque em um supermercado, como forma de garantir de que o cliente sempre encontre os produtos desejados, quando ele quiser.

Porém, a disponibilidade de um produto tem um custo: estima-se que o custo de manutenção anual de estoques varia entre 20% e 40% do custo do produto. É um valor considerável, e que pode ser revertido em lucro para as empresas.

Conciliar baixos níveis de estoques com alto nível de serviço é, portanto, um dos principais desafios dos gestores da área.

Um dos obstáculos a serem superados nesta busca é o denominado “efeito chicote”, mostrado na figura 1.

L. Forrester identificou o “efeito chicote” em sua publicação “Industrial Dynamics” (Harvard Business Review. Julho – Agosto 1958).

Figura 1: Mecanismo do Efeito Chicote: pequenas variações de demanda nos
pontos de venda causam grandes variações nas previsões dos fornecedores

O efeito chicote (Forrester Effect ou bullwhip effect) é o resultado da discrepância entre a demanda real e a prevista, quando, em uma cadeia de suprimentos, as empresas tentam alinhar sua oferta à demanda, sem deixar de atendê-la.

As empresas, por não possuírem a informação correta de seus clientes, buscam se proteger e garantir o estoque necessário para suportar uma possível variação desta demanda.

Porém, como essa demanda prevista muitas vezes não se concretiza, as organizações acabam com excesso de produtos em estoque, o que pode levar, por exemplo, a reduzirem suas compras. Numa situação de falta de estoques, as empresas passariam a aumentar seus pedidos, criando aos fornecedores, uma falsa impressão de alta demanda.

Independentemente da situação, esse reflexo vai sendo passado de cliente para fornecedor, até o final da cadeia, estabelecendo o efeito chicote (figura 2).

Figura 2: Efeito chicote: a reação dos elos da cadeia de suprimentos às variações de pedidos

Estudiosos da área de gestão de materiais, em pesquisa realizada juntamente com executivos de grandes empresas, constataram que em um produto de pequena variação no consumo, pode ocorrer uma grande variação nos pedidos de seus clientes.

Essa variação podia ser causada por vários fatores, mas logo perceberam que não era devido à variação de consumo no mercado.

Além disso, afirmam que o efeito chicote indica que a variabilidade no nível de estoques tende a ser maior ao se afastar do ponto de consumo.

A tabela seguinte mostra um exemplo hipotético de efeito chicote.

Tabela 1: Exemplo de efeito chicote

A tabela apresenta dez períodos de demanda. Em cada período, o mercado determina uma demanda real. Para o mês 1, esta demanda é de 100 uni.

O varejista possui como política de estoques, manter um mês de itens prontos para fornecimento. Como o mercado demandou 100 uni, o varejista compra 100 uni do distribuidor. Assim, sucessivamente, montadora e fornecedor produzem/compram 100 uni.

No mês 2, a demanda cai para 95 uni. O varejista faz um pedido de 90 uni, uma vez que precisa manter 95 uni em estoque. Sucessivamente, o distribuidor compra 80 uni, a montadora produz 60 uni e o fornecedor produz 20 uni.

No mês 3, a demanda aumenta para 96 uni. Para compensar esta variação, o varejista compra 97 uni, o distribuidor compra 104 uni, a montadora fabrica 128 uni e o fornecedor produz 196 uni.

Repetindo a análise mês a mês, percebe-se claramente a ocorrência do efeito chicote, sintetizada na figura 3.

Figura 3: Variação da demanda para os elos da cadeia de suprimentos

O gráfico da figura 3 mostra o resultado dessa variação na demanda.

Por exemplo, se for observada a coluna referente à demanda do mercado, é possível perceber que ela varia muito pouco (algumas unidades, mês a mês).

Porém, conforme os pedidos foram sendo efetuados entre as empresas, distanciando-se do ponto de consumo, a variação foi aumentando, o que representa o efeito chicote.

Como evitar o Efeito Chicote?

Uma vez que existe um alto custo incorrido para as empresas devido aos estoques, e considerando que o efeito chicote é um dos propulsores da sua variação, deve-se identificar as causas deste efeito.

Existem quatro causas principais para o efeito chicote:

  • Processamento da previsão de demanda;
  • “Jogo” da escassez ou racionamento;
  • Acúmulo de pedidos / tamanho dos pedidos;
  • Flutuações de preços;

O Processamento da Previsão de Demanda

Cada uma destas causas tem o poder de provocar o efeito chicote. Porém, as causas também podem atuar de forma combinada, acentuando a ocorrência do efeito chicote.

A previsão da demanda é um fator fundamental para definição das estratégias de estocagem e de produção.

Quanto mais precisos forem os dados, menores serão as possibilidades de erro na previsão e maior o seu desempenho financeiro.

É importante ressaltar que a precisão dos dados não elimina totalmente a possibilidade de erros na previsão, dependendo também do tratamento dos mesmos.

Normalmente a coleta de dados pode acontecer de várias maneiras. Uma delas é trabalhar com base na demanda passada. Outra pode ser através da tentativa de captar os sinais de demanda vindos do mercado.

A única forma de conseguir precisão nesses dados é conseguindo-os do ponto de consumo, ou que a previsão do cliente seja feita com base nestes dados.

Para que isso seja possível, é necessário que exista um nível de informação e colaboração muito grande.

O simples fato de compartilhar a informação de demanda não é suficiente, pois cada componente da cadeia pode ter diferentes métodos de previsão. Essa diferença pode ser devido às estratégias da empresa e às técnicas de previsão, por exemplo.

É necessário, então, que as empresas utilizem o mesmo modelo, ou que uma única empresa faça a previsão para todas as outras. Há a necessidade de uso de potentes softwares de gestão e compartilhamento de dados.

Os lead times de pedidos longos contribuem para que ocorra o efeito chicote: é necessário que os ciclos de pedidos sejam reduzidos, de forma que o cliente possa se sentir mais seguro em relação a programação efetuada, evitando a sensação de falta de proteção quanto aos estoques.

O Jogo da Escassez / Racionamento

Se um varejista considerar a possibilidade de que possa acontecer uma escassez nos produtos de determinada empresa, é muito provável que ele aumente o tamanho de seus pedidos, como forma de garantir para si uma boa parcela da produção do fabricante.

Isso fará com que o fabricante necessite tomar cuidado no momento de fazer a alocação de sua produção.

Seja por necessidade ou por estratégia, o racionamento de produtos para o mercado influencia no hábito de como as empresas efetuam o pedido.

Ou seja, se for percebida uma demanda superior à oferta, é provável que as empresas se previnam, fazendo pedidos maiores.

Porém, esses pedidos serão atendidos e elevarão os estoques dos clientes, que por sua vez, não farão novos pedidos.

Desta forma a indústria, que desta vez está prevenida, ficará com seus estoques acima do estabelecido.

É importante, portanto, que o fabricante se previna desse jogo, sendo necessário prevenir os clientes de uma ilusória falta de produtos.

Para isso, é preciso que a informação sobre os níveis de produção e estocagem sejam compartilhados. Da mesma forma, que os clientes compartilhem a previsão sobre a demanda.

Acúmulo de Pedidos (Tamanho dos Pedidos)

O tamanho do pedido é influenciado por dois fatores: o processo de revisão periódica e o custo de processamento de um pedido. O processo de revisão periódica pode ser melhorado com o acesso aos dados do ponto de venda. Devido à falta de certeza do que ocorre no final da cadeia, o fabricante muitas vezes acaba por revisar o tamanho do lote a ser produzido ou os produtos nele contidos.

Esse compartilhamento pode determinar uma agenda de produção coerente com as necessidades do mercado. O custo de processamento de um pedido influencia os clientes a tentarem reduzir ao máximo o número de compras, o que traz bastante variação ao nível de produção.

Esse custo de processamento é formado principalmente pelo custo de transporte e pelos descontos dados pelo setor de vendas: um cliente que comprar uma carga completa ganha mais desconto do comercial e paga um valor menor por produto no frete.

O que pode ser feito neste caso é usar transportadoras de cargas fracionadas ou operadores logísticos que, por serem especializados no serviço de distribuição, podem trabalhar com custos menores. Desta forma o cliente não seria obrigado a comprar grandes lotes para ratear os custos de transporte.

Flutuações de Preços

A política de preços utilizada por uma empresa influencia muito na forma como os clientes se comportam com relação aos pedidos.

Se, por exemplo, existirem épocas em que ocorrem promoções, provavelmente a maioria dos pedidos será realizada neste período.

Desse modo, os estoques se reduzem e a produção fica com uma programação superior à sua capacidade, causando maiores custos de produção.

Uma solução seria o uso de uma política de preços estabilizados sempre, ao invés do uso de promoções.

Essa alternativa é baseada no fato de que por mais que um preço menor possa reduzir os ganhos da empresa, ele a previne contra os custos oriundos da variação do tamanho dos lotes.

Soluções

A figura 4 apresenta uma síntese das ações principais, que possuem alto potencial para mitigar a ocorrência do efeito chicote nas organizações.

Soluções potenciais para o efeito chicote
Figura 4: Soluções potenciais para o efeito chicote

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